Há um ano:
Conheci-os. Ela, de lindos olhos azuis, cabelo branco e corpo franzino, tinha um aspecto visivelmente frágil. Ele, constantemente ao seu lado, era o seu protector.
Estavam sentados na soleira de pedra daquela casa a transpirar passado, carregada de recordações. Lá, naquele aldeia perdida onde a população jovem escasseia.
Lembro-me de achar lindo aquele amor, aquela dedicação, mais de 70 anos depois de se terem conhecido. Ela débil; ele, apesar do avançar da idade, com ar robusto e matreiro sempre a provocar o riso da sua amada. Confidenciou que assim levaram uma vida a dois – a sorrir em conjunto, em qualquer circunstância, mesmo nos momentos mais difíceis.
Há 15 dias:
Volto àquela aldeia perdida para lá do Douro vinhateiro, terra de gentes incomparavelmente humildes e acolhedoras. Encontro-o. Ela não está ao seu lado. Convida-nos a entrar. A casa é grande e está vazia, ainda mais vazia do que há um ano. Tal como a alma dele – oca e triste com a ausência do seu único e eterno amor.
Com os olhos a transbordar de lágrimas, diz que perdeu o bem mais precioso que a vida lhe havia dado. A mulher que escolheu como sua com apenas 10 anos e da qual nunca mais se separou e, por própria vontade, nunca se separaria.
Mas a vida comete estas crueldades e, aos 82 anos, ele sente-se mais só do que nunca, porque perdeu a sua frágil flor que, tendo adoecido cedo, sempre se encarregou de cuidar. Quis dividir a sua vitalidade com ela, e durante anos conseguiu-o, até que ela não teve mais forças para lutar.
«Nunca lhe fui infiel, mesmo quando as raparigas da minha aldeia me convidavam para os bailes. Eu nunca ia sem ela. E assim foi ao longo de toda a vida, foram mais de 70 anos…», desabafa. E as lágrimas voltam a cair-lhe pelo rosto.
Instalou-se um nó na garganta, as palavras não saíam, não sabia o que dizer, fitei os seus olhos e os meus também se encharcaram de lágrimas. Quiseram, aliás tiveram, de ser solidários. Só lhe consegui dizer: «Foi e continuará a ser um amor muito bonito e raro. Não conheço ninguém que possa dizer que tem um amor com mais de 70 anos. Eu própria tenho a certeza que nunca o direi. Já não será possível.» Tentei imprimir um tom descontraído às minhas palavras e ele sorriu. Senti que se alegrou um pouco.
Uma história triste, sem dúvida, mas ao mesmo tempo linda! É a história de um infinito amor, que sobreviveu às agruras da vida, a todas as tentações, ao tempo e até à morte. Sim, porque ele continua a amá-la.
sábado, 21 de junho de 2008
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2 comentários:
Lindo! Lindo! Lindo! Lindo! Lindo!
Quem não deseja um amor assim?
meu deus! que coisa mais bonita de se saber que existe... :)
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