"Não vêm montados em cavalos brancos, a empunhar espadas e a prometer a morte dos dragões. Vêm por nós. Vêm para nós. Só precisamos de prestar atenção.
O que transforma um homem vulgar no nosso príncipe é ele querer ser o homem da nossa vida. E há alguns que ainda querem. Se ficou sem consorte no dia de S. Valentim não desespere. Faça como uma amiga minha que quando sai do carro, retoca o baton e diz com uma convicção demolidora «o Príncipe pode estar em qualquer lado».E pode mesmo. É uma questão de fé, arbitrária e alietória, mas pode acontecer. Até porque nós, os extraordinários, somos poucos, mas andamos por aí. Isto é o que diz outro amigo meu que é mesmo extraordinário e já encontrou a pessoa certa, pelo menos por agora. Foi ele que um dia me explicou o que era esse maravilhoso conceito da pessoa certa.
A pessoa certa não é a mais inteligente, a que nos escreve as mais belas cartas de amor, a que nos jura paixão ou nos diz que nunca se sentiu assim. Nem a que se muda para nossa casa ao fim de três semanas e planeia viagens idílicas ao outro lado do mundo. A pessoa certa é aquela que quer mesmo ficar connosco. Tão simples quanto isto. Às vezes demasiado simples para as pessoas perceberem. O que transforma um homem vulgar no nosso príncipe é ele querer ser o homem da nossa vida. E há alguns que ainda querem.
Os Príncipes Encantados não têm pressa na conquista porque como já escolheram com quem querem passar o resto da vida, têm todo o tempo do mundo; levam-nos a comer um prego porque sabem que no futuro levar-nos-ão à Tour d'Argent; ouvem-nos com atenção e carinho porque se querem habituar à música da nossa voz e entram-nos no coração devagar, respeitando o silêncio das cicatrizes que só o tempo apaga. Podem parecer menos empenhados ou sinceros que os antecessores, mas o que chamamos hesitação ou timidez talvez seja uma forma de precaução para terem a certeza que não se vão enganar.
O Príncipe Encantado não é o namorado mais romântico que nos cobre de beijos; é o homem que nos puxa o lençol durante a noite para não nos constiparmos e se levanta às três da manhã para nos fazer um chá quando nos dói a garganta. Não é o que nos compra discos românticos e nos trauteia canções de amor. É o que nos ouve falar de tudo, mesmo das coisas menos agradáveis. Não é o que diz Amo-te, mas o que sente que talvez nos possa amar para sempre. Não é o que passa metade das férias connosco e a outra metade com os amigos; é o que passa, de vez em quando, férias com os amigos.
O Príncipe que sabe o que quer, não é o melhor namorado; é o marido mais porreiro. Não é o que olha para nós todos os dias, mas o que olha por nós todos os dias. Que tem paciência para os meus, os teus, os nossos filhos e que ainda arranja lugar para os filhos dos outros. Que partilha a vida e vê em cada dia uma forma de se dar aos que lhe são próximos. Que ajuda os mais velhos a fazer os trabalhos de casa e põe os mais novos a dormir. Que quando está cansado fica em silêncio, mas nunca deixa de nos envolver com um sorriso. Não precisa de um carro bestial, basta-lhe uma música bestial para ouvir no carro. Tem quase sempre um cão. Gosta de ler e sai pouco à noite, porque prefere ficar em casa a namorar e a ver o Zapping. Cozinha o básico, mas faz os melhores ovos mexidos e vai à padaria num feriado.
O Príncipe é Príncipe porque governa um reino, porque sabe dar e partilhar, porque ajuda, apoia e faz-nos sentir importantes. Claro que com tantos sapos, bem vestidos e cheios de conversa, como é que não nos enganamos? É fácil. Primeiro, é preciso aceitar que às vezes nos enganamos mesmo. E depois é preciso acreditar que um dia podemos ter sorte. E como o melhor de viver é saber que um dia tudo muda, um dia muda tudo e ele aparece. Depois é deixa-lo ficar... e se for mesmo ele, fica."
Margarida Rebelo Pinto
A escritora é considerada light, mas talvez por isso consegue contar o dia a dia do amor feito para durar..
2 comentários:
Podem dizer que sou parvinha, inocente até, mas eu acredito em Principes Encantados. (Acho que) encontrei o meu!
Pessoalmente, não gosto desta escrita. Não existem receitas e o que para umas pessoas é ideal, para outras é o que mais assusta. Mas, como também tenho um lado romântico, acredito nas sintonias, nas personalidades que se completam. O problema, muitas vezes, é que parece mais fácil encontrar as personalidades que chocam do que as que se completam.
Apesar de tudo, gostei desta parte: «...entram-nos no coração devagar, respeitando o silêncio das cicatrizes que só o tempo apaga». De facto, as pessoas têm de saber entrar devagarinho nos corações alheios, porque os verdadeiros sentimentos podem demorar a chegar, mas chegam!
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